domingo, 18 de julho de 2010

através

O tempo rastejou, estagnou e foi passando vagarosamente enquanto eu em segredo escrevia essas cartas endereçadas à uma cidade fantasma. Neutralizada estou pela saudade avassaladora que tomou o lugar de minha sanidade. Meu bom senso ainda espera minha mudança, a solidão anda me ensinando a viver. Já quase me acostumei com a rotina de uma alma perdida, mas ainda não me conformei de com sua partida repentina.

Vejo a noite vazia emoldurada pela minha janela, ao fundo aquele gramado parcialmente oculto por folhas secas, como se ali houvesse se formado um tapete de lágrimas tristes da árvore torta, desde que ele partiu. E as folhas lá do lado de fora rodopiam numa dança melancólica, enquanto a escuridão em volta da árvore gira. Hoje fará um mês que a neve derretera por completo e parece que as estações vieram desordenadas. É primavera com a letargia de um outono.

Algo nessa cena sépia que fito através da janela embaçada me traz uma paz e me recorda de momentos felizes. Tomei mais um gole do meu café e toquei com a ponta de meu dedo a janela. Sem ao menos perceber, havia desenhado ele... e ao seu lado, eu.

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